terça-feira, 1 de janeiro de 2013

IMPRESSÕES: Salve Jorge


Muitos amigos meus já jogaram a toalha para Salve Jorge. Dizem que nada se salva. Eu ainda acho que a novela pode ter salvação, mas vindo depois de uma Avenida Brasil, vai ser difícil marcar época.
A novela tem numa de suas tramas o ponto alto: o tráfico de pessoas. É uma das três atividades criminosas que mais movimentam dinheiro no Brasil. É algo tão aterrorizante de imaginar acontecendo com alguém que conheçamos.
Porque a novela não pegou de cara? Excesso de personagens, muitas tramas paralelas desinteressantes, atores que não se encontraram em seus papéis, etc, etc...
Porque não gosto da Morena? Como ter empatia por uma protagonista barraqueira que quando entra em cena passa a sensação de ser uma pessoa encrenqueira e que arruma confusão por qualquer coisa? Aí reside o problema. Não houve tempo de nos familiarizarmos com os problemas do dia-a-dia da Morena para aceitarmos seus barracos. Não havia humor para cairmos em simpatia através do riso. E é crucial para uma novela funcionar termos uma identificação rápida com os protagonistas. Afinal, eles formam a trama central de uma novela e são a aposta principal quando uma nova saga começa a desenrolar seus primeiros capítulos.
Porque eu gosto da Morena? É uma pessoa com garra, que não tolera injustiças e, agora, luta por sua liberdade sem se render. Ela joga o jogo dos traficantes, mas está de olho para se ver livre deles. A luta pela liberdade é algo que sempre desperta algum sentimento no telespectador. Quem gostaria de ter sua liberdade privada? Nós, cidadãos honestos, não gostamos de pensar nesta ideia. Nem os bandidos encarceirados gostam disso. E é no momento que Morena se vê vítima de uma cruel enganação que começamos a nos render ao personagem. É o momento que toda aquela marra dela faz sentido e o principal motivo de eu seguir a novela se revela.
Esta trama é o que Salve Jorge tem de mais interessante. É um diferencial que a Glória Perez tem para fazer uma novela diferente. Mas, ao colocar uma trama tão forte, atual e contemporânea mesclada em meio às culturas distantes que ela tanto gosta de mostrar correu o risco de jogar tudo isso no lixo. Conhecer a cultura turca é interessante, mas não quando todos os atores nos fazem lembrar de novelas antigas como O Clone e Caminho das Índias. Se tivesse ficado com uma trama urbana sem grandes desvios, a novela poderia ter deslanchado mais rapidamente. Não teria havido comparações com outras novelas, talvez a rejeição dos órfãos da Avenida Brasil fosse menor. Afinal, seriamos jogados desde o início com o foco centralizado na ação que diferenciaria Salve Jorge das outras.
Agora, mesmo com a reação da audiência, a novela pode recuperar sua audiência, entrar no tão falado "trilho" de Ibope. Mas, ao terminar, terá apenas sido mais uma no meio de tantas novelas que já vimos.