sexta-feira, 31 de julho de 2009

EU TE DAREI O CÉU...

Grandes pretensões já foram responsáveis por muitos fracassos no mundo das novelas. Em 2002, a Globo anunciou que ESPERANÇA seria a maior super-produção de todos os tempos. Em 2005, o SBT cometeu o mesmo erro ao afirmar que sua versão de OS RICOS TAMBÉM CHORAM era a super-produção baseada num sucesso mundial. Este ano, o autor Tiago Santiago, então na Record, declarou que sua novela PROMESSAS DE AMOR iria conquistar audiência ao apostar no realismo e ir na contramão da "fantasiosa" (na sua opinião) CAMINHO DAS ÍNDIAS.
O fato é, teríamos muitos outros exemplos. Mas, tomemos estes três, por enquanto. ESPERANÇA tinha uma dupla aposta da Globo. Repetir ou ampliar o sucesso de TERRA NOSTRA e ter mais uma produção de época para atender à demanda do mercado internacional. A produção era belíssima, a fotografia primorosa, a bela canção de abertura era encantadora. Até aqui, muitos superlativos, mas ficamos apenas com estes. O público tinha muito fresca na cabeça a lembrança de TERRA NOSTRA. Reynaldo Gianecchini e Priscila Fantin ainda não tinham maturidade artística suficiente para encarar o peso de um papel principal. A história era muito lenta. A novela veio como novidade, mas acabou sendo vista como uma reprise. Foi responsável por um dos mais baixos índices de audiência da década no horário nobre da Globo. Algo só visto anos depois nos primeiros meses de exibição de A FAVORITA (onde o problema foi outro, a concorrência) Vítima de problemas de saúde, Benedito Ruy Barbosa, o autor, foi competentemente substituído por Walcyr Carrasco que ajudou a levantar um pouco os índices, ajudado também pelo interesse que desperta no público o final de uma novela.
No caso do SBT, eles tinham na mão um prato cheio: o direito de regravar OS RICOS TAMBÉM CHORAM, uma das novelas mexicanas mais vendidas e assistidas em todo o mundo. Mas o que se viu por trás de uma caprichada produção foi um total desvirtuamento da obra original. Os diversos núcleos da trama tinham frágeis ligações entre si e em determinado momento eram tantas tramas paralelas que o centro da história era só mais um detalhe no meio da novela. Uma estreia promissora com bom primeiro capítulo se perdeu num roteiro fraco que deu privilégio ao humor para amenizar o que a trama tinha de melhor: o melodrama. Quando resolveram botar ordem na casa, já era tarde demais. Aí, o sofrimento ficou desmedido, muito forçado e o público já tinha esquecido de assistir à novela.
Atualmente, a Record exibe o que pode ser considerado seu primeiro fracasso nesta nova era da teledramaturgia iniciada em 2004 pelo mesmo autor que agora escreve a arrastada PROMESSAS DE AMOR. A novela é a terceira parte de uma saga iniciada em 2007 com CAMINHOS DO CORAÇÃO, que gerou uma seqüência em 2008, OS MUTANTES y chegamos em 2009 com a fatídica PROMESSAS DE AMOR. A proposta inicial era de manter os temas fantásticos na história, mas deixando tudo em segundo plano. A novela seria uma história realista com personagens tão "reais" que seriam capazes de conquistar uma parcela do público adulto que estivesse farto do universo "fantasioso" da novela CAMINHO DAS ÍNDIAS de Glória Perez. O autor chegou a afirmar em entrevistas que sua novela seria capaz de concorrer em pé de igualdade com a mais importante novela da concorrência. Mas com a novela no ar, o resultado foi bem diferente. A história não tinha nada de original. O desenrolar das situações era muito lento e o público não esperou para mudar de canal. Resultado, o tiro acertou o pé. Toda a audiência que a Globo tinha perdido nos últimos meses para as novelas da Record foi recuperada e PROMESSAS DE AMOR teve seu final abreviado. Chegaram a anunciar que esta seria uma novela curta. Mas novelas com menos de 200 capítulos na Record são raridade. O resultado final, na média de audiência, não permite chamar a novela de um fracasso completo, mas, perto das expectativas que foram depositadas na novela, o resultado ficou muito abaixo do esperado.
O sucesso de uma novela não é algo que possa ser anunciado ou garantido com base, simplesmente, na qualidade da produção. O êxito depende de uma série de fatores que vão além do horário de exibição, de um bom roteiro ou de atores carismáticos. Ele pode estar numa ideia despretensiosa que cai nas graças do público, ou pode vir no embalo de uma seqüência de sucessos anteriores de um mesmo canal. O fato é que na maioria das vezes, muita pretensão, faz um tropeço parecer um fracasso, às vezes, muito maior do que realmente é.