segunda-feira, 27 de julho de 2009

O PESO DOS COADJUVANTES


Quem assiste a CAMINHO DAS ÍNDIAS todas as noites deve se divertir com a Norminha, de Dira Paes; se deliciar com a interpretação de Laura Cardoso e sua carrancuda Laksmi; deve também se impressionar com a capacidade de Tony Ramos parecer uma pessoa completamente diferente a cada trabalho que faz na televisão.
Com estes três exemplos, entre muitos outros que poderiam ser mencionados fica evidente a importância de bons personagens secundários dentro de uma novela. Já não é de hoje que eles assumem a responsabilidade de levantar uma história quando o eixo central não vai bem das pernas. E em CAMINHO DAS ÍNDIAS foi justamente o que aconteceu.
A audiência vai bem. Os comentários de quem gosta são os melhores. Glória Perez criou um universo fantasioso de personagens amarrados no melhor estilo novelão. Mas quem acompanha a novela desde o início sabe que o pilar central que origina esta saga não teve forças para seguir adiante e foi modificado.
Nas previsões iniciais o romance de Maya e Bahuan seria antagonizado pelo casamento de Maya com Raj. Mas a popularidade de Raj, a aceitação do público pela relação que ele construiu com sua esposa fez com que Bahuan fosse rebaixado de protagonista a mero coadjuvante. Ele se afastou de sua amada e a cada capítulo a chance de ganhar um final feliz a seu lado é menor.
Qual seria o erro nesta novela? O fato de Bahuan ter deixado Maya na rua da amargura quando ela fugiu de casa para ir embora com ele. Neste dia, ele alegou que deveria criar condições de dar uma vida boa para ela antes de levá-la com ele. Maya teve que voltar derrotada para casa, conseguir o perdão de sua mãe e partir para o indesejado casamento com Raj estando grávida de Bahuan. Talvez, o fato de Raj, mesmo como antagonista não ser um homem mau, não maltratar Maya, estar disposto a construir o amor com a convivência. O público rejeitou o ato de Bauan e viu que Raj era o cara certo para conquistar Maya. No último capítulo, será bem provável vermos Maya chegar no final feliz ao lado de Raj e Bahuan que até tentou ser um vilãozinho deverá encontrar sua felicidade nos braços de outra mulher, Shivani.
Não é de hoje que as apostas principais das novelas das oito da Globo acabam virando histórias secundárias. Em MULHERES APAIXONADAS, a Helena de Christiane Torloni virou coadjuvante numa história onde as raquetadas que Dan Stulbach dava em Helena Ranaldi ganhavam a atenção do público. Em PARAÍSO TROPICAL os relacionamentos de Glória Pires e Tony Ramos e Camila Pitanga e Wagner Moura ofuscaram durante muitos capítulos a história central de Alessandra Negrini, em papel duplo e Fábio Assunção. Em DUAS CARAS a frágil Marjorie Estiano viu seu protagonismo ser ofuscado pelos mandos e desmandos do miliano Juvenal antena de Antônio Fagundes.
Diante disto, só temos que torcer para que as novelas apresentem grandes personagens secundários em suas tramas porque eles, quase sempre, tem muito mais a dizer do que os protagonistas das novelas que seguimos todas as noites. Eles nos fazem rir, nos emocionam e nos motivam a voltar todas as noites ao mesmo canal para dar uma espiada em seus próximos passos.